terça-feira

Liberdade

Canário:
Pareceu-me sinistro o olhar da pequena ave. Era como se ela soubesse o destino que a aguardava. E como não saber?
Hoje pela manhã quando saí de casa o mundo parecia conspirar contra mim. Uma chuva fina e chata batia no meu rosto, e isso me fez repensar a idéia de não usar guarda-chuvas quando saio. Para completar todas as pessoas pareciam querer conversar comigo, mesmo aquelas que não falavam comigo nunca. O mundo falhou, cheguei vivo ao trabalho. A preocupação passou a ser as coisas que eu devia fazer mas não queria, e além do que, haviam outros interesses na minha mente. Depois de um grande desperdício de tempo e vida, consegui concluir as tarefas para o dia e pude voltar para casa. A chuva havia parado. As pessoas não falaram comigo. Quando cheguei em casa o pequeno canário cantou uma sonata melancólica. Pude entender claramente o que ele dizia. Quando encarei-o ele já sabia seu destino. Agora vou deitar com a ilusão que ele está melhor do que eu, mas sei que ele vai morrer de frio, ou fome, ou até mesmo alimentar outro animal... e mesmo assim ele parece melhor do que eu.

-/-